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Festival de Jazz do Valado de Frades

 

Jazz no Valado 2023

 

Desde há alguns anos que o Valado Jazz se antecipa nas ruas da Nazaré em concertos dixieland, e um outro concerto da Orquestra de Jazz do Município da Nazaré acompanhando uma cantora oriunda de outras áreas musicais. Este concerto acontece sempre no Cine-Teatro da Nazaré, e é apoiado pelo município. A cantora foi, este ano, a fadista Cristina Maria (de que nunca tinha ouvido falar e que continuo sem conhecer).

O Jazz começou mesmo no Valado, na sua sala histórica, a BIR (a maçónica Biblioteca de Instrução e Recreio), reduzido a quatro concertos - sem o apoio da Direcção-Geral das Artes, o Festival de Jazz do Valado de Frades foi forçado a reduzir a programação. (Já no decorrer do festival soube-se que alguns apoios institucionais regressariam para o próximo ano.)
Dos quatro concertos programados só assisti aos dois primeiros.

NOA + Rão Kyao
Os NOA (Nuno Costa, Óscar Graça e André Sousa Machado) são um trio que já toca há alguns anos, explorando uma fórmula atípica de trio de guitarra e piano sem baixo, com um repertório misto de standards e originais do trio. O convidado para o Valado, o histórico Rão Kyao, acrescentou colorido ao trio nas flautas de bambu.
Prejudicado pelo som – o piano não se ouviu em grande parte do primeiro set, e a bateria esteve sempre muito alta – o concerto foi algo irregular, com bons momentos. (E diria que excessivas foram também as intervenções do guitarrista na apresentação dos músicos e em piadas a despropósito.)
Rão Kyao, que tinha sido convidado para tocar em dois temas do disco («Concavexo», de 2022), protagonizou sempre os momentos mais aplaudidos, e ele demonstrou que, se há muito se afastou do Jazz, ele ainda não lhe perdeu o jeito, e foi mesmo capaz de improvisar com acerto. O repertório percorreu temas dos dois discos do trio, entre os quais dois originais de Rão Kyao e uma raga (com um apelo fácil à participação do público), mas também Miles Davis do «Kind of Blue», «Os índios da meia praia» de Zeca Afonso, «The Kid» - uma homenagem a Charlie Chaplin, e «Mr. Knight» de John Coltrane (que eu reconheci como o «India» de «Impressions»).
Apesar do desequilíbrio do som e da deficiente acústica da sala, o concerto correu bem, muito aplaudido, para o que contribuíram o exótico das flautas de Rão Kyao, a bateria (explosiva mas algo excessiva) de André Sousa Machado, e as intervenções inspiradas do piano de Óscar Graça. Sala cheia.

Long Ago and Far Away
Com uma substituição de última hora – Kirill Bubiakin em vez de Pedro Moreira -, os Long Away and Far Away, uma formação que desde há mais de dois anos ocupou as primeiras quartas-feiras dos meses do Hot Club, e que se dedica a explorar o repertório dos compositores clássicos do Jazz, fez a segunda noite do festival. O compositor escolhido pelo grupo para tocar no Valado foi o celebrado Thelonious Monk, com «Misterioso», «Four in One», «Gren Chinese», «Ask Me Now», «52th Street Theme», «I Mean You», «Blues Bolivar», Ugly Beauty», «Evidence», «Round Midnight», «Brilliant Corners» e «Rhythm-a-ning», e creio que não me esqueci de nenhum.
Corrigidos alguns problemas de som do dia anterior, a música escorreu sem engulhos, e naturalmente, porque o sexteto é composto de alguns dos melhores músicos nacionais e este é um repertório fácil, na complexidade da música de Thelonious Monk. Diria que João Pedro Coelho esteve longe do pianismo anguloso e económico de Monk, e porventura mais perto de Bud Powell (o que não é uma crítica), mas todo o grupo foi convincente na interpretação desta música. Generosos nos solos, intuitivos nas deixas, competentes na exposição, esta é a vocação e a praia do sexteto, e eles não deixaram os créditos por mãos alheias.
Um bom concerto, muito aplaudido, e com motivos.

Não me foi possível estar presente na segunda semana do festival, que constou de dois concertos: os Nazaré Capbreton Sextet 23 e os Liftoff.
Os Nazaré Capbreton Sextet 23 são um sexteto formado para a ocasião, constituído por três músicos da Nazaré e três músicos escolhidos por Bernard Labat, o director do festival de Jazz de Capbreton, cidade geminada com a Nazaré, numa colaboração que começou há três anos. Os músicos não se conhecem e encontraram-se pela primeira vez três dias antes do concerto para ensaiar os originais a tocar.
 Os Liftoff são um quarteto liderado pelo vibrafonista e compositor Jeffery Davis, com Óscar Graça, Nelson Cascais e Diogo Alexandre, que toca um Jazz muito rico harmonicamente, e que se tem destacado no panorama do Jazz nacional.
Mas, como disse, não estive presente na segunda semana do festival.

 

Programador/ Director Artístico: ADELINO MOTA


Dom 4 Junho Nazaré
Av. Marginal da Nazaré
16.00
Dixienaza Jazz Band Vitor Guerreiro (t), Daniel Vinagre (ss), Joaquim Pequicho (s), Élio Fróis (trb), Celso Batista (sousa), Márcio Silvério (bjo), Vitor Copa (bat)
Sáb 10 Nazaré
Cine-teatro da Nazaré
22.00
Big Band M. Nazaré + Cristina Maria
«Há Fado no Jazz»
Gustavo Mateus (sa), Guilherme Santos (sa), João Machado (st), João Heliodoro (st), Nuno Mendes (sb), Vítor Guerreiro (t), Andreia Marques (t), André Venâncio (t), Margarida Louro (t), André Ramalhais (trb), Ricardo Sousa (trb), Flávio Santos (trb), Alexandre Vilela (trb), Gonçalo Justino (g), Ricardo Caldeira (p), Tiago Lopes (b), Bruno Monteiro (bat), Júlia Valentim (voz), Cristina Maria (voz), Adelino Mota (dir)
Sex 23 Valado dos Frades
BIR
22.00
NOA + Rão Kyao Nuno Costa (g), Óscar Graça (p, tec), André Sousa Machado (bat) + Rão Kyao (f)
Sáb 24 Valado dos Frades
BIR
22.00
Long Ago and Far Away

João Moreira (t), Pedro Moreira (st), Bruno Santos (g), João Pedro Coelho (p), Bernardo Moreira (ctb), André Sousa Machado (bat)

Sex 30 Valado dos Frades
BIR
22.00
Nazaré Capbreton Sextet 23 André Murraças (st), André Ramalhais (trb), Felix Robin (vib), Robin Jolivet (g), Théo Castillo Bertran (b), Pedro Felgar (bat)
Sáb 1 Julho Valado dos Frades
BIR
22.00
LiftOff Jeffery Davis (vib), Óscar Graça (p), Nelson Cascais (ctb), Diogo Alexandre (bat)